sexta-feira, 18 de setembro de 2009

OUTRA CRÔNICA DE MARIO PRATA(BIDU,PAG,19)

Na semana passada falei aqui em palavras que surgem do nada, de repente, não mais que de repente, e entram no ouvido e na gente, com significados novos. Falei da palavra bizarro, sem ser bizarro. Palavras e expressões. Pois depois fiquei pensando em algumas palavras e expressões e ditos que somem.
“Cartear marra” é uma delas. Usadíssima nos anos 60, não vejo ninguém mais carteando marra. Quantas vezes nós, adolescentes, nos bailinhos, ao vermos alguém de outra cidade querendo dançar com as nossas meninas, chegávamos perto: não vem cartear marra aqui, não. Cartear marra era querer ser metido a gostoso.
Hoje, décadas depois, vou ao dicionário. Cartear significa também “chutar”. E marra, coragem. Portanto a expressão estava correta: fingir coragem. E, cá entre nós, naquele tempo todo mundo carteava marra.
Outra genial: “par de besta”. Tipo assim: o cara veio com par de besta pra cima de mim e eu sai na porrada. E eu nunca entendia porque o sujeito com um par de besta (o animal, claro), significava que era todo valentão. O que é que a besta tinha a ver com valentia?
Mas hoje, descobri. O primeiro significado da palavra besta é uma arma, uma espécie de arco para atirar setas. Portanto, o cara que vinha com par de besta, vinha armado, vinha para agredir, para ofender.
Por outro lado, e ainda mais bestial, o interessante é que o sujeito “metido a besta” era o metido a gostoso, a bonitão, a conquistador. Aqui, no caso, nunca entendi o porque da besta. Se você for metido a besta, me explique.
E tinha uns mais valentões que vinham com par de besta cartear marra. Geralmente eram mais fortes que nós e a gente se “danava (a palavra não é bem esta) em verde e amarelo”. E eles tiravam as nossas minas para dançar. Justamente a que estava de “tomara que cai” e havia nos prometido “dar uma tábua” nele. Depois ela me explicaria: queria o que? Que eu tomasse “chá de cadeira”? Você já imaginou o que significa levar tábua e tomar chá de cadeira? Nem que a vaca tussa você sabe. E o gostosão com a nossa menina nos achando “bola murcha”.
Mas uma que eu nunca entendi mesmo – até hoje – é “mixar o carbureto”. Passei a manhã de hoje olhando dicionários, dando uns telefonemas e nada. Se alguém aí souber a origem, me diga. A expressão era usada – e muito mesmo – quando a coisa – qualquer coisa – não dava certo. Se dizia: mixou o carbureto. Será que a origem seria acabar o gás? Pode ser?
E o cara que era “café com leite”, lembra? Também não tem o menor sentido. Café com leite era aquele sujeito quer não contava, que não sabia fazer nada. Podia estar a mais num time de futebol, podia dançar com as minas. Café com leite era quase um bobo.
Naquela época não tinha “pêr-répis”, a não ser se você fosse “gilete”. A gente saía para “encher o picuá” dos outros e qualquer problema, “noves fora zero”.
Mas o que mais me irritava, na adolescência, era a minha irmã mais velha achar que eu era “inocente”. Já tinha uns doze anos e ela dizia que eu era inocente. E olha que eu já era culpadíssimo!
Me desculpe cartear tanta marra...

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